segunda-feira, 7 de março de 2011












O Alberto Granado que conheci
O Dionatan, o Milhouse, de Brasilia e eu tivemos a honra de conhecer o Dr. Granado. Estivemos em sua casa em uma tarde quente com a camêra do Colega Pancho da Guatemala e gravamos uma pequena entrevista com ele no segundo semestre de 2001.

Saber da Morte de Alberto Granado neste dia 05/04 nos sentimos na tarefa de elogiar sua pessoa que foi professor de muitos dos melhores médicos cubanos formados pela Revolução Cubana. Bioquímico e revolucionário de primeira hora. Nasceu na Argentina mas foi cidadão de Cuba e da Venezuela com as quais teria uma grande relação de afeto. Trabalhou com o Che junto a leprosos em vários lugares da América Latina.

Ainda lembro de que quando chegamos à sua casa, dois alunos do 1o ano da ELAM, um neto dele nos recebeu e foi chamar a esposa. Senti aflição de imaginar que ele pudesse ter adoecido e que adiassem ou cancelassem a entrevista com ele. Dioanatan e eu estavamos ansiosos e nervosos para aquele momento. Eu estivera na casa duas semanas antes e falara com ele e com a esposa e havíamos marcado a data e hora para a entrevista.

Era velhinho caminhava com a ajuda de uma bastão. Para nosso desespero não havia luz. Como gravar a entrevista? A camêra do Pancho não tinha bateria e tinha mau contato. Batemos um bom papo com ele e sua esposa. Lembro de que o Dionatan ficou com a mão dormente por ter de fazer força para que a camera funcionasse. Para nossa alegria em pouco a luz voltou e conseguimos gravar a entrevista que mais tarde enviamos ao Brasil e que infelizmente foi perdida pelos companheiros de Betim. Sei que o audio apagou-se por completo, talvez as imagens ainda existam perdidas em uma velha fita por aí.

Junto à escada que dava para o segundo pavimento da sua casa havia duas fotos do Che vestido de guerrilheiro sentado e olhando para o alto. Granado chamavacom grande afeto ao Che por Ernesto. Conversamos no seu escritório no segundo andar da casa.

A conversa com ele foi um momento de deleite e afeto.

Com seu sotaque argentino carregado nos contou de sua amizade com Guevara, do enorme senso de justiça de seu amigo. Mostrou antes da gravação as fotos e recortes originais dele com o Guevara e contou-nos que havia um diretor de cinema brasileiro quem o estava visitando para gravar um filme sobre as viagens dele e do Ernesto, um Sales (Walter) e contou-nos que admirava a Vargas e a o líder da esquerda do Brasil Lula da Silva.

Em um determinado momento perguntei a Granado sua opinião sobre o mundo todo usar o rosto do Che nas camisetas, se isso não seria uma vulgarização de sua história e sua pessoa como guerrilheiro que Guevara fora. Ele calmamente respondeu mais ou menos assim( Mihouse me corrija se não foi exatamente deste modo): "Conhecendo como eu conheci o Ernesto, tenho certeza de que ele preferiria estar estampado no peito de uma moça que parado em uma praça na forma de estátua sendo cagado por pombos".

Ao final perguntei-lhe como foram ele e sua esposa ( venezuelana) viver em Cuba.
Ele contou de todo o processo de saída dos médicos e professores de medicina de Cuba quando houve a vitória da Revolução e que Guevara o convidara a ir visitar Cuba e quando estavam lá, convidou-o a trabalhar em Cuba e ensinar bioquímica aos alunos de medicina. Ele tinha um pequeno laboratório de bioquímica em Caracas.

Em Julho foi a Cuba com a esposa para os atos celebrativos do 26 de julho de 1959( ou 60 não lembro exatamente). Que ele subira o Pico Turquino junto a todos que assistiram aos eventos e que ficou impressionado com Fidel, com sua fala, com os trabalhadores e com o Exército Rebelde.

Porém o que convenceu de que viveria em Cuba foi quando ele e a esposa chegaram a Santiago de Cuba para ficar hospedados na casa de um Capitão do Exército Rebelde.

Foram até o endereço do Capitão e quando chegaram lá viram a um homem jovem branco sem camisa, de calça verde e botinas pretas do lado de fora da casa cortando lenha com um machado. Quando perguntaram pelo tal capitão, ele pediu que esperassem. Entrou na casa e voltou de lá de camisa e secando o suor do rosto. Secou as mãos e apertou a mão de Granado com um sorriso e apresentou-se como sendo o capitão que ele procurava. Acostumado com os oficiais golpistas e elitistas dos exécitos latinoamericanos, ele ficou impressionado com aquilo e viu que aquela era de fato a Revolução da qual seu amigo havia falado e que Fidel classificara como sendo uma Revolução dos humildes com os humildes e para os humildes.

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