sexta-feira, 11 de setembro de 2009


O 11 de setembro de 2001 que eu vi em Cuba

"Yo soñé con aviones que entre si se matavan y nublavan el día..."

Sylvio Rodriguez

Lembro que era manhã e estava caminhando por um dos gramados da ELAM quando ouvi gritos que vinham dos edifícos de dormitórios. Não entendi o que era, mas o instinto fez-me caminhar mais rápido em direção a um dos prédios já que em vários deles haviam gritos de surpresa.

Quando cheguei ao local onde fica a carpeteira, uma espécie de secretária que cuida da entrada dos dormitórios, minha surpresa aumentou ao ver várias pessoas ao redor da TV e nela viam a cena de um edifício que pegava fogo.

Parecia para quem estava recém chegado um filme na qual a imagem não tinha aquela visão artificial à qual estamos acostumados no cinema, nem havia música. Não era filme. vi ao vivo como muita gente no mundo quando o segundo avião atingiu a uma das Torres Gêmeas de Nova Iorque.

Fiquei em silêncio tentando entender o que havia acontecido e sem muitas informações concluí que os EUA haviam naquele dia colhido uma parte de toda a opressão e ódio que haviam semeado pelo mundo. Porém e desde o primeiro momento tive noção disso, de que pessoas inocentes haviam sido feridas e mortas ali.

Nesta mesma tarde minha professora de Medicina Geral Integral a Dra. Sany Arandi Canosa pediu-me como chefe do grupo de estudos que emitisse minha opinião sobre o fato para nossa turma. Lembro apenas que lamentei que naquele dia estivessem derramando sangue inocente e incentivando o ódio no mundo e que éramos privilegiados por estar juntos ali naquela escola onde tantas pessoas de mais de 24 países e centenas de etnias conviviamos de modo fraternal graças à solidariedade de Cuba preparando-nos para regressar a nossas comunidades para cuidar de nossa gente.

Os alunos e alunas dos EUA foram reunidos para o caso de necessitar uma retirada de urgência deles da ELAM e também para receberem informações sobre amigos e familiares que viviam em Nova Iorque. Ninguém sabia ao certo o que estava acontecendo. Evelyn Rickson e Melissa Barber, minhas amigas tinham família por lá e a própria Evelyn havia trabalhado ao lado das Torres.

Cuba ofereceu ao governo dos EUA seus aeroportos para receber os voos que foram desviados da Big apple, também mobilizou milhares de doadores de sangue para enviar a oferta ao país vizinho e ainda ofereceu formalmente ao presidente George W. Bush os bombeiros cubanos para ajudar no resgate às vítimas do atentado. Não houve resposta de Washington ao oferecimento cubano. Era preferivel ver americanos morrerem sem assistência que abrir mão do orgulho de opressor imperial. Médicos cubanos já trabalharam em todas as latitudes do planeta sem nenhuma pretensão política de Cuba, apenas por solidariedade com o bem supremo de cada ser humano sua vida e sua dignidade. Assim teria sido o trabalho de médicos e bombeiros na atenção às vítimas do atentado. Morreram nele 2759 pessoas.


Neste mesmo dia Fidel condenou o ataque às Torres Gêmeas condenando todo tipo de terrorismo e afirmando que este é uma forma de luta cega que naõ pode ser aceita como forma de luta política. E ainda previu que duros tempos se avizinhavam para o mundo. Mais de um milhão de Iraquianos mortos, milhares de estadounidenses e afegãos, mais as vítimas de atos de terrorismo na Espanha e outros lugares e até um eletrecista de Minas Gerais morto pela polícia inlglesa em Londres confundido com um terrorista confirmaram a previsão de Fidel Castro.
Cuba convidou os EUA e a ONU para discutir sobre como combater o terrorismo de estado e de grupos radicais. A opção dos falcões da guerra de Washington foi outra. E sem o aval da ONU atacou ao Afeganistão.

Até hoje seguem muitas e muitas dúvidas sobre o que de fato aconteceu frente aos nossos olhos vendo à televisão naquela manhã de 11 de setembro de 2001. Isso é o que me lembro.

2 comentários:

  1. Lembro bem das nossas conversas sobre suas vivencias em Cuba neste dia, o que mais gostoI foi sua narração da atitude dos companheiros Latino Americanos que subiram em cima das cadeiras e gritaram ´´PAU NO CU DOS YANKES``

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  2. Mano Cléber, infelizmente a dor que o governo dos EUA produziram na AL com as ditaduras foi muito grande: Chile, Argentina, Brasil, Guatemala, Honduras, El Salvador na década de 1980, os contras na Nicaragua, não se poderia esperar outra reação de quem sempre foi tratado como inferior, basta pensar na condição dos milhões de irmãos, pais e parentes de nossos colegas que trabalhavam nos EUA em condições inferiores aos anglosaxões. Mais que um grito de ódio foi de alívio ao ver que a infalidibilidade americana era falsa, os norte americanos são tão humanos quanto nós.

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