sexta-feira, 11 de setembro de 2009


Uma causa justa para defender e a esperança de seguir em frente
Fidel Castro Ruz
Durante as últimas semanas, o atual Presidente dos Estados Unidos se empenha em demonstrar que a crise está cedendo como fruto de seus esforços para enfrentar o grave problema que os Estados Unidos e o mundo herdaram do seu antecessor.
Quase todos os economistas fazem referência à crise econômica que se iniciou em outubro de 1929. A anterior havia sido no final do século XIX. A tendência bastante generalizada nos políticos norte-americanos é a de crer que tão breve quanto os bancos disponham de suficientes dólares para engraxar a maquinaria do aparato produtivo, tudo marchará em direção a um idílico e sonhado mundo.
As diferenças entre a chamada crise econômica dos anos 1930 e a atual são muitas, porém, me limitarei somente a uma das mais importantes.
Desde o final da Primeira Guerra Mundial o dólar, baseado no padrão outro, substituiu a libra esterlina inglesa devido às imensas somas de ouro que a Grã Bretanha gastou na guerra. A grande crise econômica aconteceu nos Estados Unidos apenas 12 anos depois daquela guerra.
Franklin D. Roosevelt, do Partido Democrata, venceu em boa medida ajudado pela crise, como Obama na crise atual. Seguindo a teoria de Keynes, injetou dinheiro em circulação, construiu obras públicas como estradas, represas e outras de inquestionável benefício, o que incrementou o gasto, a demanda de produtos, o emprego e o PIB durante anos, porém não obteve os fundos imprimindo dinheiro. Os obtinha com impostos e com parte do dinheiro depositado nos bancos. Vendia bônus dos Estados Unidos com juros garantidos, que os fazia atrativos para os compradores.
O ouro, cujo preço em 1929 estava a 20 dólares onça Troy, Roosevelt o elevou a 35 dólares como garantia interna das notas de dólar. Sobre a base desta garantia em ouro físico, surgiu o Acordo de Bretton Woods em julho de 1944, que outorgou ao poderoso país o privilegio de imprimir divisas convertíveis quando o resto do mundo estava arruinado. Estados Unidos possuía mais de 80% do ouro do mundo.
Não necessito recordar o que veio depois, desde as bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima y Nagasaki, ─acaba de cumprir 64 anos deste genocídio-, até o golpe de Estado em Honduras as sete bases militares que o governo dos Estados Unidos propõe instalar na Colômbia. O real é que em 1971, na administração de Richard de Nixon, o padrão ouro foi suprimido e a emissão ilimitada de dólares se converteu na maior estafa econômica da humanidade. Em virtude do privilégio de Bretton Woods, os Estados Unidos ao suprimir unilateralmente a conversibilidade de dólares em ouro, paga com papéis os bens e serviços que adquire no mundo. É certo que em troca de dólares também oferece bens e serviços, porém também é certo que desde a supressão do padrão ouro, o dinheiro deste país, EUA, que se cotizava a dólares a onça Troy, perdeu quase 30 vezes seu valor e 48 vezes o valor que tinha em 1929. O resto do mundo sofreu as perdas, seus recursos naturais e seu dinheiro custearam o rearmamento e as guerras do império norte-americano. Basta sinalizar que a quantidade de bônus vendidos pelo tesouro dos EUA a outro países supera a cifra de 03 trilhões de dólares e a dívida pública, que segue crescendo, ultrapassa a cifra de 11 trilhões de dólares.
O império e seus aliados capitalistas, ao mesmo tempo em que competem entre si, fizeram crer que as medidas anticrise constituem as fórmulas salvadoras. Porém, Europa, Rússia, Japão, Coréia, China e a Índia não arrecadaram fundos vendendo bônus de seus tesouros nem imprimindo dinheiro e sim aplicando outras fórmulas para defender suas moedas nacionais e seus mercados, algumas vezes com grande austeridade de suas populações. A imensa maioria dos países em desenvolvimento da Ásia, África e Ámérica Latina é a que paga os pratos quebrados da festa do capital, fornecendo recursos naturais não renováveis, suor e vidas.
O Nafta (Tratado de livre comércio entre México, EUA e Canadá) é o exemplo mais claro do que pode ocorrer com um país em desenvolvimento diante do nariz do lobo: nem soluções para os imigrantes nos Estados Unidos, nem autorização para viajar sem visto ao Canadá pode obter o México na última Cúpula do Nafta.
Adquire, porém, plena vigência sob a crise o maior acordo de livre comércio mundial: a Organização Mundial de Comércio, que cresceu sob as notas triunfantes do neoliberalismo, em pleno apogeu das finanças mundiais e os sonhos ilusórios de um capital desregulado.
Por outro lado, a BBC Mundo informou dia 11 de agosto, que mil funcionários da Organização das Nações Unidas, reunidos em Bonn, Alemanha, declararam que buscam o caminho para um acordo sobre as mudanças climáticas em dezembro deste ano, porém, que o tempo está acabando.
Ivo de Boer, O funcionário de mais importante da ONU sobre as mudanças climáticas, disse que faltavam apenas 119 dias para a cúpula e temos “uma enorme quantidade de interesses divergentes, escasso tempo de discussão, um documento complicado sobre a mesa (duzentas páginas) e problemas de financiamento…”
“As nações em desenvolvimento insistem em que a maior parte dos gases que produzem o efeito estufa provém do mundo industrializado.”
O mundo em desenvolvimento alega a necessidade de ajuda financeira para lidar com os efeitos climáticos.
Ban Ki-moon, secretário geral das Nações Unidas, declarou que: “Se não se tomam medidas urgentes para combater as mudanças climáticas poderão levar à violência e a distúrbios em massa em todo o planeta.”
“As mudanças climáticas intensificarão as secas, inundações e outros desastres naturais.”
“A escassez de água afetará a centenas de milhões de pessoas. A desnutrição irá arrasar com grande parte dos países em desenvolvimento.”
Um artigo do The New York Times no dia 09 de agosto explicava que: “Os analistas vêm nas mudanças climáticas uma ameaça para a segurança nacional.”
“Semelhantes crises –continua o artigo- provocadas pelo clima poderiam derrubar governos, estimular movimentos terroristas ou desestabilizar regiões completas, afirmam analistas do Pentágono e de agências de inteligência que pela primeira vez estão estudando as implicações das mudanças climáticas na segurança nacional.”
“‘Se torna muito complicado rapidamente’, disse Amanda J. Dory, Secretaria de Defesa Adjunta para Estratégia, que trabalha com um grupo do Pentágono designado para incorporar as mudanças climáticas no planejamento da estratégia nacional de segurança.”
Do artigo do The New York Times se deduz que no Senado norte-americano nem todos estão ainda convencidos de que se trata de um problema real, ignorado totalmente até agora pelos governos dos Estados Unidos desde que se aprovou a 10 anos em Kyoto no Japão.
Alguns falam de que a crise econômica é o fim do Imperialismo; talvez Deveríamos perguntar se não significa algo pior para nossa espécie.
Ao meu juízo, o melhor sempre será ter uma causa justa para defender e a esperança de seguir em frente.
Fidel Castro Ruz, 83, é advogado e ex-presidente de Cuba.
Tradução de Sidnei Rodrigues de Faria. O texto original em espanhol pode ser encontrado em http://www.cubatebate.com.cu/

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