quarta-feira, 20 de maio de 2009




Cafundó

Lázaro Ramos vive João Camargo, líder religioso da cidade de Sorocaba do século XIX.

Domingo de frio na terra natal de Drummond, no almoço comíamos carne cozida com mandioca, arroz e feijão com muito alho e cebola. Na mesa três filhos da diáspora africana miscigenados a ferro e força formando parte deste Brasil. Janaína propôs ver o filme escolhido na locadora na véspera. Não queria, imaginei um filminnho sem cor e sem gosto. Ledo engano. Vimos e fui de encontro às nossas raízes.

Se, no pagador de promessas a intolerância do padre, do Zé do Burro e da polícia matam o personagem principal, em Cafundó o respeito por todos os seres da natureza, nossos orixás, nossos santos católicos, nossas crenças espíritas se fundem numa religião brasileira. Esta aceita que o homem faça uma promessa para encontrar seu animal de estimação perdido. Levinda prostituida por seu amante é aceita na comunidade. Doentes, pobres sem abrigo são recebidos por um homem que abre mão de sua vida particular para ser o preto velho que acolhe os que têm medo e sofrem. O dinheiro e as doações feitas pelos que alcançavam graças vão ser distribuídos entre os que nada têm. Quantas vezes o etnocentrismo ensinou-nos a temer a figura do preto velho e tudo que fosse da religião afrobrasileira?

A direção é de Paulo Betti, lindas imagens, cantos e danças de negros e negras, com a sua fala errada, a fala certa do povo como diria Manuel Bandeira. Não é um filme manifesto assiste-se à verdade sem criar esquemas primários tipo brancos maus contra negros pobrezinhos. Nada disso, o filme é bom por fazer uma leitura aberta e fraterna da história do Brasil sem negar os erros .

Na parte de extras entrevistam o falecido sociólogo Florestan Fernandes sobre a pessoa de João Camargos e há um bate papo com Paulo Betti contando o fascínio deste líder religioso do interior de Sorocaba sobre sua pessoa.

É um filme sobre a tolerância religiosa no Brasil sobre o respeito que vem sendo conquistado com muitas lutas pelos negros.


PANO RÁPIDO ( COMENTÁRIOS):
1-Recebo a informação da amiga Alyne de Juazeiro do Norte (CE) da greve dos anestesistas da cidade que se recusam a trabalhar por 700 reais por 12h de plantão. A população esperando as cirurgias e a administração de mãos atadas pela lei de responsabilidade fiscal e pelo grupo que não aceita negociar com a prefeitura.

2- A Afrobrás em SP está realizando a formatura de 241 administradores de empresas. É a sua segunda turma.
3-Quando abriremos as portas das universidades brasileiras para jovens de comunidades carentes principalmente afrodescentes e negras e negros estudarem medicina?

4- Quantas vezes vc foi antendido por um médico ou médica negro?

4 comentários:

  1. Quando abriremos as portas de uma educação digna para todos?!
    Será que terei a oportunidade de colocar meus netos em uma escola pública,como meus avós o fizeram com seus filhos?!
    Cotas de 50% para alunos de escola pública ingressarem nas universidades JÁÁ!!
    Não as cotas especificas para afrodescendentes!!
    todos somos capazes!o que falta são oportunidades!

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  2. Perfeito Victor. Cota para todas as escolas públicas porque nelas é que estão o negros, mestiços e brancos pobres.
    abraços.

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  3. O mundo será melhor quando aprendermos a nos respeitar mutuamente; quando conseguirmos ver o outro além das aparências de cor, raça ou credo.
    Acredito na força de ações pequenas do nosso dia-a-dia, acredito na força muitas ações pequenas, pois elas podem se tornar grandiosas.

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  4. Necessidade, vontande de conhecer a 'nossa' cultura...
    Um brinde à Cafundó.

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