terça-feira, 19 de maio de 2009

Liberdade ainda que Tantam
Ontem cheguei à Praça Sete, de Setembro, no epicentro de BH às 14:15 e fiquei por lá como bom mieiro matutando sobre o que acontecia ao redor.
Aos poucos eles foram chegando, uns sós, outros em grupos e outros vindo pela mão de um parente. Em menos de meia hora a praça estava tomada de familiares, portadores de sofrimento metal, belos e belas estudantes e trabalhadores da área da saúde mental.
às 15h saímos em desfile pela Avenida Afonso Pena o grupo cerca de mil pessoas sambando e cantando, três caminhões de som iam tocando o samba enredo e celebrando a luta pela vida fora dos manicômios com muita festa.
Convidado pela amiga Sirla fiquei na Ala do Cersam ( CAPS) Venda Nova. Ao receber a fantasia perguntei-me: " Tenho cara de louco de sobra. Ao verem-me vestido assim não serei confundido com algum paciente?" Neste momento lembrei de umas das frases nas faixas: Onde mora o seu preconceito? Pude ver que ali havia mais que pacientes e cuidadores. Havia uma troca de afeto muito grande, uma intimidade respeitosa entre todos.
Vestíamos fantasias brancas e os pescoços adornados por mangueiras amarelas de contrução que enroladas davam sons polifônicos. Foi um festival de sopros nas mangueirinhas. Risos, gritos e muito samba. Recomendo o conto Soroco, sua mãe e sua filha de Guimarães Rosa que fala desta emoção de festa coletiva sem razão.
O desfile tinha ala de crianças, tinhas mulatas sambando firme, fantasias dignas da Sapucaí e muita gente alegre das janelas dos edifícios soturnos de BH acenando para aquele bando de "doidos" lá na rua: familiares, médicos, psicólogos, enfermeiros, professores, assistentes sociais e portadores de sofrimento mental afirmando o direito de todos serem tratados com dignidade e amor.
Uma das cenas que me encheu de alegria foi ver uma senhora que coduzia três homens, seriam irmaõs? Ela se agarrava a às fantasias deles e eles davam as mãos uns aos outros e iam dançando no ritmo deles o samba. Há vinte anos qual seria o dia a dia deles? Presos, acorrentados talvez. Em algumas camisetas o "slogam" da atividade: Sinto logo existo. Os tímidos iam aos poucos lançando-se no samba com a alegria dos que não são normais. Dos que não são escravos de normas desumanas e cruéis. Alguns destribuiam rosas vermelhas para mulheres nas calçadas e folhetos sobre oDia Nacional de Luta Antimanicomial.
Foi umabela tarde de reafirmação do caráter universalista do SUS e da saúde como um direito para todos. De que a saúde mental só pode ser construída em comunidade, ao viver junto dos outros. Por isso lembrei-me com especial carinho do Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim em Fortaleza que também estava celebrando por lá a liberdade e a vida com dignidade para nossos irmãos e irmãs.
Saí do samba sabendo( perdoem a cacofonia) onde estava meu preconceito e disposto a encará-lo de frente. E você já sabe onde mora o seu?
Pano rápido: Hoje 19 de maio data da queda de Martí em combate. Sandra a posição do corpo, como morreu, se foi morto ou se matou-se não importa. Importa sua fidelidade ao sonho de liberdade Cubano e as idéias da Nossa América. Besos en Luciano.

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