Lembrança de Maria
Quando cheguei ao hospital eram 4:20 da manhã. Havia sido atacado por uma horrível dor de cabeça que me levantou da cama. Nem um comprimido em casa. Para ir a uma farmácia comprar remédios seria possível apenas com uma receita e nessa hora achei melhor ir até a urgência do hospital onde sonolentos conversavam maqueiros com um dos médicos e uma enfermeira. Meu humor não estava lá para estas coisas quando fui falar com o médico. Antes da resposta a enfermeira adiantou que na urgência não há comprimidos pelo tempo que demoram para atuar e que sim havia remédios injetáveis caso eu quisesse. Preferi não.
Fui com minha dor de cabeça atravessando os jardins que separam os blocos de enfermarias no hospital Salvador Allende que é horizontal. Cheguei à enfermaria onde durante o dia acompanhava os pacientes de meu professor. Lá havia comprimidos, não queria nenhum furo nos meus braços.
Ao chegar acordei a enfermeira que dormia sentada com a cabeça apoiada nos braços no semi-escuro do posto de enfermagem. Fazia um contraste belo na madrugada: o corpo negro com belas tranças na cabeça dentro da roupa branca dentro da escuridão da noite. Deu o comprimido e perguntou se eu viria às oito da manhã ou se eu queria que ela avisasse que não. Disse que estaria ali no horário normal. Era um aluno do terceiro ano de medicina não podia dar-me ao luxo de perder quatro horas de prática clínica, sobretudo por gostar de encontrar pela manhã os colegas em especial Jorge- de São Paulo, Amarys- Cubana, Edgar- Argentino, Liórgenes- cubano e Anabel também cubana que davam enorme vida à enfermaria e a seus doentes tratando-os com carinho, humor e amizade.
Observei que um dos quartos tinha sua luz acesa. Fui ver o que havia por lá. Encontrei a paciente Maria M. dormindo sentada em uma das cadeiras com a máscara de oxigênio no rosto e roncando profusamente e sua filha deitada nada cama no seu lugar. O filho mais velho da paciente dormia sentado em outra cadeira ao lado da mãe que tinha câncer. Sabíamos e seus filhos também, ela não.
Estava perto dos oitenta anos de idade e fumara pouco, deixando o cigarro perto dos trinta anos de idade quando casou-se com o pai de seus sete filhos.
Dormiam os três às claras. O cansaço lhes havia feito cair no sono sem apagar a luz. Esse tipo de união nas famílias cubanas sempre despertou-me curiosidade. Maltratam-se, mas também cuidam uns dos outros com um zelo de dar medo.
Fui pé por pé e apaguei a luz neste momento o filho despertou e levantou-se. A irmã também acordou ao ouvir o ranger da cadeira quando ele levantou. Fui até ela e disse: “olha que te confundem com a paciente e te aplicam uma injeção na bunda”. Ela riu e disse em voz baixa que antes dos remédios colocaria a mãe na cama. “ela não consegue dormir deitada”. Eu já sabia disso. Maria com sua insuficiência cardíaca e seu câncer de pulmão não podia pegar no sono deitada. Apenas sentada experimentava tranqüilidade e umas 03 horas de sono.
A paciente se entusiasmava com a entrada na no quarto do meu professor o Dr. Vladimir Curbelo e nos dizia: “Ahí viene mí doctor” e diante dele afirmava que aprendêssemos do mestre. Dizia apenas para adulá-lo e o devorava com os olhos.
Pouco tempo depois ela morreu e vi sua filha certa vez na rua. Reconheceu-me e contou-me da família, que ela própria já era avó e que preparava com recursos parcos a festa de três anos do neto, se aceitasse ir seria seu convidado.
Quando cheguei ao hospital eram 4:20 da manhã. Havia sido atacado por uma horrível dor de cabeça que me levantou da cama. Nem um comprimido em casa. Para ir a uma farmácia comprar remédios seria possível apenas com uma receita e nessa hora achei melhor ir até a urgência do hospital onde sonolentos conversavam maqueiros com um dos médicos e uma enfermeira. Meu humor não estava lá para estas coisas quando fui falar com o médico. Antes da resposta a enfermeira adiantou que na urgência não há comprimidos pelo tempo que demoram para atuar e que sim havia remédios injetáveis caso eu quisesse. Preferi não.
Fui com minha dor de cabeça atravessando os jardins que separam os blocos de enfermarias no hospital Salvador Allende que é horizontal. Cheguei à enfermaria onde durante o dia acompanhava os pacientes de meu professor. Lá havia comprimidos, não queria nenhum furo nos meus braços.
Ao chegar acordei a enfermeira que dormia sentada com a cabeça apoiada nos braços no semi-escuro do posto de enfermagem. Fazia um contraste belo na madrugada: o corpo negro com belas tranças na cabeça dentro da roupa branca dentro da escuridão da noite. Deu o comprimido e perguntou se eu viria às oito da manhã ou se eu queria que ela avisasse que não. Disse que estaria ali no horário normal. Era um aluno do terceiro ano de medicina não podia dar-me ao luxo de perder quatro horas de prática clínica, sobretudo por gostar de encontrar pela manhã os colegas em especial Jorge- de São Paulo, Amarys- Cubana, Edgar- Argentino, Liórgenes- cubano e Anabel também cubana que davam enorme vida à enfermaria e a seus doentes tratando-os com carinho, humor e amizade.
Observei que um dos quartos tinha sua luz acesa. Fui ver o que havia por lá. Encontrei a paciente Maria M. dormindo sentada em uma das cadeiras com a máscara de oxigênio no rosto e roncando profusamente e sua filha deitada nada cama no seu lugar. O filho mais velho da paciente dormia sentado em outra cadeira ao lado da mãe que tinha câncer. Sabíamos e seus filhos também, ela não.
Estava perto dos oitenta anos de idade e fumara pouco, deixando o cigarro perto dos trinta anos de idade quando casou-se com o pai de seus sete filhos.
Dormiam os três às claras. O cansaço lhes havia feito cair no sono sem apagar a luz. Esse tipo de união nas famílias cubanas sempre despertou-me curiosidade. Maltratam-se, mas também cuidam uns dos outros com um zelo de dar medo.
Fui pé por pé e apaguei a luz neste momento o filho despertou e levantou-se. A irmã também acordou ao ouvir o ranger da cadeira quando ele levantou. Fui até ela e disse: “olha que te confundem com a paciente e te aplicam uma injeção na bunda”. Ela riu e disse em voz baixa que antes dos remédios colocaria a mãe na cama. “ela não consegue dormir deitada”. Eu já sabia disso. Maria com sua insuficiência cardíaca e seu câncer de pulmão não podia pegar no sono deitada. Apenas sentada experimentava tranqüilidade e umas 03 horas de sono.
A paciente se entusiasmava com a entrada na no quarto do meu professor o Dr. Vladimir Curbelo e nos dizia: “Ahí viene mí doctor” e diante dele afirmava que aprendêssemos do mestre. Dizia apenas para adulá-lo e o devorava com os olhos.
Pouco tempo depois ela morreu e vi sua filha certa vez na rua. Reconheceu-me e contou-me da família, que ela própria já era avó e que preparava com recursos parcos a festa de três anos do neto, se aceitasse ir seria seu convidado.
Algo houve e não fui ao aniversário, mas nunca esqueci sua mãe e o gesto gentil de seu irmão que levou para mim umas ervas que deveria colocar na região dos parietais e dormir assim para combater a dor de cabeça. Esse era o tipo de relação entre médicos, enfermeiros, estudantes de medicina e nossos pacientes: perfeito nunca. Mas, com grande afeto e amor pela medicina e pessoas que atendíamos.
gracias por compartir tu experiencia seguro tendrás miles de cosas para contar
ResponderExcluirfelíz cumpleaños che,
te acordas como era el cantito de cumple cubano?
yo si
un abrazote porcino desde la tierra infectada con gripe A jajajajajaj
felicidades amigo en tu día
ResponderExcluirque lo pases con sana alegría
muchos años de paz y armonía
felicidad, felicidad, felicidad..
en cuba sonaba lindo con la tonada de ellos.